Saímos com alta probabilidade de chuva. Fizemos 100km nos esgueirando entre as nuvens, sob rajadas de vento que fazia as motos mais leves quase trocar de pista. Chovia claramente muito próximo de nós e sempre tangenciávamos essa ou aquela nuvem. Fomos conduzidos no caminho por um arco-íris que nos ciceroneava pelo vale. Chegamos a Villa Cerro Castillo e tomamos um café para relaxar e seguir viagem. Ao colocar as rodas no rípio o arco-íris começou a dar risadas... Entre a primeira gota e estarmos encharcados foi questão de minutos. Rípio solto e alto - de obra recente - para obrigar os guaipecas a se rastejar. E mais água... isso não variou. O que variou foi os tipos de queda possível. Rípio solto para tombar escavadeira; rípio molhado para jogar Curling de motos; rípio recém escavocado para trancos como num filme de terror; rípio em morros para enterrar a moto e talvez algo mais; rípio arado pela máquina de terraplanagem para fazer trilhas para o inferno; e depois essas mesma puta máquina joga uma química no solo e o deixa ensaboado para decolagens não programadas; rípio na lateral jogada pelos caminhões que passam no sentido contrário cagando para sua rota fixa em um trilho que não consegue sair; rípio e pedradas por baixo para te lembrar que apesar do frio te chamar ao sono, não é momento de cochilar; rípio deixando gosto na boca, pois depois de algum tempo tua respiração contrasta com o frio e embaça a viseira obrigando a abri-lá; rípio em subidas te jogando para baixo; rípio em descidas te jogando para o lado; rípio com trilhas para o precipício ou para o carro no sentido contrário; rípio em trilha reta apenas quando vinha um ônibus no sentido contrário ocupando a mesma trilha; rípio em costeletas para sacudir tuas entranhas; rípio liso e quase asfáltico apenas quando já estávamos chegando... Foram mais de 2 horas para percorrer pouco mais de 100km. Foram mais de 2h de um visual possivelmente espetacular que não vimos; foram mais de 2h encharcados e enregelados. Mas foram mais de 2h da nossa vida para relembrarmos por termos vivido. Chegamos cedo em Puerto Rio Tranquilo, transformando a cabana em um varal coletivo. E, em poucos minutos, o tempo melhorou e nos brindou com um belo por do sol para nos mostrar o quão lindo é o lugar e que devemos um dia voltar e tentar de novo....

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