O dia de sorte Hoje foi um dia de sorte. Acordamos em Rivera debaixo de chuva de canivete. Chuva prometida para ontem, que teria nos encharcado na chegada. Ainda, a chuva permitiu que antecipássemos o freeshop. Sorte! Ao meio-dia o céu abriu e ao abastecer no posto, puff na moto do Mauro. Bateria morta. Se tivéssemos saído na chuva, teríamos ficado consertando a moto debaixo de chuva. Sorte! Ver o Claudinho Surfista Prateado empurrando o Mauro Motoqueiro Fantasma ladeira abaixo e na contra-mão... não tem preço. Sorte! Enjambramos uma bateria like; feita por um técnico like; uruguaio like; e quinta não é feriado no Uruguai. Sorte! Assim saímos muito tarde de Rivera. Tapete até Tacuarembó. O atraso fez pegarmos todos restaurantes da próspera Tacuaremba(diminutivo chinelão delicado) fechados. Assim pudemos conhecer o pancho de birosca da praça central - uma delícia. Sorte! Muitas risadas e perda de tempo. Saímos de Tacuarembó depois das 16:30 e... pegamos a estrada do inferno. Lisinha por muitos metros para acelerar e então... panelas marcianas para acabar com qualquer tecnologia terrestre. Não tínhamos pego estrada tão ruim nem no Alaska! 240km de desespero. Mas... a ruindade da estrada fez os locais nos pararem depois de 25km rodados, para nos avisar da ruindade da estrada. Nesta conversa casual, descobrimos que não existia posto de gasolina até Paysandu... 240km!!!! Voltamos os 25km; ficamos em fila de abastecimento... por sorte, senão ficaríamos no meio do nada sem gasolina. Sorte! Este retorno para abastecer nos fez iniciar a longa jornada pela estrada infernal no entardecer. Vimos um por do sol espetacular que nos cegava e no horizonte oposto o nascer da lua. Algo nunca visto antes por muitos. Sorte! Exatamente no meio do caminho; no meio do nada; onde não existia nenhuma habitação ou luz artificial em todos horizontes; onde somente a lua nos contemplava; resolvemos dar uma parada para descansar. Risadas, história de crateras vencidas ou enfrentadas pelas motos; histórias da tensão dos abismos vencidos... reflexão e retorno a estrada. Não!!! ! A moto do Mauro Pilha Fraca morreu de novo! Permitiu que contemplássemos o luar por mais uma hora! Nossa visão sob a luz do luar parecia TV de alta definição. Sorte! Lugar perfeito para acabar o mundo... mas a companhia poderia ser melhor... então resolvemos tentar novamente e empurrar a moto na escuridão sobre um chão de panelas... Sucesso na perda de peso e no chacoalhar dos loucos. Pudemos apenas apreciar a indescritível visão da escuridão. Sorte! Enquanto argumentávamos entre dormir na estrada ou abandonar a moto, o Claudio fez umas conexões venusianas e uns cabos netunianos e obviamente... nada! Então por algum motivo não explicável, a moto pegou. Sorte! 240km sobre buracos: rípio e escuridão, sem acidentes; sem estouro de pneus; e sem pensar na angústia do trabalho. Sorte! Como chegamos muito tarde em Payssandu... tivemos que comer em uma Parrillada familiar. Entre amigos e risadas. Sorte! Como os Guaipecas são sortudos!...

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